quarta-feira, 13 de maio de 2015

Licor De Morango Silvestre

De Cidões

O rio, lentamente, aquece, os peixes renovam-se, os que engoli, querem esquecer-me,
A cara depois de escurecer, empalidece com o que teve que levar, quem diria, que a língua
Bruta capaz de obrigar à mudança dos lençóis e da cama para o sofá, os tios já não podem
Comigo para atravessar o rio, nem eu com eles, ficamos do lado de cá, espero que por muitos
Anos e bebemos as garrafas de vinho que o meu avô deixou para o meu pai engarrafar,
Armamos uma tenda entre os medos ancestrais e os gritos histéricos, porque os lobos
Algures entre o nosso medo e a sua extinção, meu tio, aguarde agora, tenho que falar
De uns gajos que ninguém realmente conhece, o Hunter chega com as meias das raquetes
E o copo cheio, pede gelo, dizemos claro, que não há, estamos no rio, o Hemingway
Pergunta de onde vieram os cartuchos, o meu avô inocente, já não enche cartucheiras,
O único que tem razão a esta hora antes de cairmos nas tendas é o Jim, quando somos
Estranhos arrancamos amieiros para fazer café, confessamos o gosto por cu fresco,
E encontramos adeptos da estrela do mar de chocolate, umas semanas nisto e acordava
Tão iluminado numa manhã de garrafas vazias quanto o Jack, a mula venderam-na,
Ou então foi para o mesmo lugar dos cães de caça do avô, chumbo, veneno,
Só enforcam quem usa botas, é triste, contudo, o rio não parece tão fundo
Antes do entardecer, nem o céu parece tão longe, nem o infinito aguenta a dúvida,
E agora, que fazer, quando ninguém pode comigo para me levar às costas para o outro lado do rio.

Turku

13.05.2015


João Bosco da Silva
“Love Will Tear Us Apart”

Quando o amor arrefece, abre a porta e sai, deixa-te levar chuveiro da cona mais
Nojenta que encontrares, desde que não te lembres do seu nome, mas sai,
Quando o amor arrefece, foge, salta pela janela, descola-te da almofada,
Esquece o teu calor nos lençóis, corre, o inferno aquece inversamente proporcional
Ao arrefecimento do amor, e é verdade, há coisas piores que a morte,
Uma delas é seres apanhado pela resignação, seres mordido por um amor morto,
Frio, tornares-te um zombie embalado pelo furor do rastilho, mais vale
Engolires uma corda que te fica presa na garganta que o fígado, constantemente
Comido pelas aves que sabem que a paciência morreu há muito, mas também a alma,
Foge do amor que arrefece, não queiras saber do frio que só existe em equações.

12.05.2015

Turku


João Bosco da Silva