sábado, 4 de julho de 2020


Vendedoras de Morangos

Vendem ilusões maduras, fruta da época, nos dias quentes do verão nórdico,
Suas gotas de suor descendo a pele dourada, são as estrelas cadentes
Da minha adolescência em Agosto, quando saem da água fria dos lagos,
As suas virilhas têm o cheiro do ondular dourado de uma seara madura,
Ainda têm o mundo nas mãos de quem há pouco cedeu a inocência
À vontade do corpo, essas vendedoras de morangos, pequenos sóis
À sombra de tendas de cores quentes, fosse eu jovem e admirava-as
Com a mesma distância, sempre fui um covarde com mais olhos que barriga
E a poesia isto que me entretém os dentes da vontade.

Turku

26.06.2020

João Bosco da Silva


Linhas

Já tinha os olhos bem desenhados, quem se lembrou de me acrescentar
Mais umas linhas por baixo e dos lados, como na testa, sem fazer sol,
Sem estar com medo, quem me quer mudar se ainda sou o mesmo,
Posso ter esquecido meia-dúzia de sonhos e alguma força na vontade,
Mas ainda gosto das noites estreladas no verão e do pôr do sol no outono,
Da chegada das andorinhas, ainda me entristece a sua pressa quando
As trovoadas já frias, estes rabiscos, como se uma criança a brincar de tempo.

Turku

23.07.2020

João Bosco da Silva


Arco Branco Em Camisola Vermelha

O que fica de nós nos outros, na camisola vermelha que se esqueceu
E nunca se lavou, desde que deixaste a minha vida, uns centímetros abaixo do umbigo,
Uma mancha branca em arco, tu, uma das vezes em que entrei em ti,
Tu, aquele arco branco, agora algo que secou e se esqueceu no armário
E a memória não deixou lavar, tu engolindo a minha fome de ti
Com uma sinceridade cremosa na vontade, tento lembrar-me da última vez
Em que vesti aquela camisola, onde moram ecos dos teus gemidos,
Mas não me lembro, não me lembro sequer quem eras tu, que agora
Um arco branco à altura da braguilha numa camisola vermelha.

Turku

04.07.2020

João Bosco da Silva