Sentado À Beira Do Fim Do Mundo
Sento-me à beira do fim do mundo e nada em mim é o que pensei que viesse a ser,
Como sempre acontece quando finalmente o presente chega iluminando
A escuridão, o mistério a dúvida e o medo, apenas ossos brancos, uma nudez de sem alma,
Um vazio que não se sente como quando ela abriu as mãos e a areia é sempre demasiado fina
Para os dedos que tentam iluminar um quarto vazio sem janelas à meia-noite de um sorriso.
Ninguém se deixa ir quando o abismo chega, ninguém se desvia dos flocos brancos
Da neve eterna que se torna gente e rugas e um coração cada vez mais seco,
Mais pesado com os anos que se perdem na eternidade de uma que não será de ninguém
E os vencedores são uma ilusão, demasiado barulho numa noite de cansaço
E inevitabilidade, enquanto casas são demolidas e ao lado estátuas iludidas para sempre.
E o resto são lágrimas evaporadas no calor infinito de uma estrela que agoniza,
Uma luz que parece cortar o infinito, por um instante, que quer valer a pena,
Quer encontrar o seu lugar, quer ser criado por alguém, o ridículo de crianças
Que não querem crescer e tomar o lugar dos que afinal também sofrem e serão os avós
E caixas fechadas escondidas por terra como se fosse vergonha da fragilidade.
Secam os amores, morrem deuses e outras mentiras e à beira do fim
Só valeram a pena os sorrisos pequenos, as unhas sujas de terra,
O cheiro a suor enquanto o sol, a liberdade encontrada na companhia dos montes,
O sabor a medo do primeiro beijo, a ejaculação apressada da única vez verdadeira,
O colo da mãe, o abraço seguro do pai, a admiração da irmãzinha tão grande, maior,
As palavras que os amigos não têm que dizer porque o coração canta e é sincero,
Os brinquedo favorito debaixo da almofada e aquele que se perdeu
E viverá para sempre além da escuridão, além do fim do mundo, na companhia delas,
Quando todas as portas se fecharão no vazio, tornando impossível o que foi um universo.
03.05.2011
Turku
João Bosco da Silva