quinta-feira, 3 de março de 2022

 

No Time para o Caralho

 

Até parece mal estar a queixar-me disto, sete dias seguidos

De trabalho, quase setenta horas, obcecado com a guerra,

Ver aos poucos a força de um povo ser esmagado

Pela vontade cega de um gigante louco, acordar e esperar

Que o exército invasor tenha o maior número de baixas possível,

Eu sei que são adolescentes, a maioria, carne para canhão,

Mas não consigo simpatizar com quem não tem objeção de consciência,

Depois é uma universidade que foi demolida e uma centena de famílias,

Depois é um comboio de 60 quilómetros há dois, três dias,

É o anúncio do apocalipse, a inflação, e eu despejo uma de tinto,

Começo a pensar, comprar dólares ou ouro, o que levar quando chegar aqui,

Pouco ou nada, do que vale, para onde se foge quando nada resta,

Então a bela ideia de fugir da realidade, o último filme do James Bond,

Aquele gajo imortal, superdotado em sorte e charme,

Grande erro, este século não é para heróis nem underdogs,

Até o caralho do 007 não pode fazer nada contra os mísseis

E é vaporizado numa ilha, para salvar a filha, e o mundo vá,

Se já nem nos podemos refugiar na ficção, esperemos então

A iluminação antes da escuridão eterna do pó e do anonimato que nos cobrirá.

 

Turku

 

03.02.2022

 

João Bosco da Silva