quinta-feira, 9 de junho de 2011


Enquanto Se Dorme A Realidade Fermenta


Não pode ser, ainda é cedo, mas alguém anuncia o fim do mundo,

Em forma de mulher histérica prestes a explodir em milhões de aborrecimentos fatais,

Só resta fugir para o bunker de luxo com os amigos inesperados e o luxo

Publicidade enganosa, mas que mais pedir da sobrevivência num mundo de brincar

Às probabilidades pequenas? Cimento, um divã sem colchão, latas vazias de cerveja,

Se ao menos cerveja para esperar a morte e que se lixe, se for para morrer

Que seja com os olhos postos no Sol, atravesso um buraco na parede

Em direcção à luz do pecado e da morte e finalmente luxo, uma casa com cortinas de veludo

Vermelho, colunas de mármore branco, sofá de pele branco, uma cama gigante

Em forma de Lua à espera, uma temperatura perfeita com o Sol a ameaçar um fim do mundo.

A perfeição não se pode sentir sem companhia, e pela janela agarro uma morena

De vinte e dois, vinte e cinco anos, com o cabelo à francesa, olhos portugueses

E lábios desesperados por abuso. É o fim do mundo, o dia tem já a cor do crepúsculo

E de uma forma mais natural do que um cumprimento cordial, começamos a procurar

Os limites da carne e ela gosta que lhe explore as vísceras com violência,

Não lhe vejo a cara nesta posição, mas sinto-a a ser toda à minha volta,

Ela sabe que aquela casa não é minha, que eu não sou de ninguém, mas sente

Que me dou como se fosse a última vez para sempre, num eco pela eternidade,

Ejaculo-lhe como se a vida se escoasse toda para dentro dela, um excesso impossível

De mim, e apercebo-me que não trocamos uma única palavra.

Os meus lábios abrem-se e o frio da madrugada acorda-me com a pele colada

A um sofá castanho, uma dor de cabeça a ser gente ao meu lado

Com as calças ainda desapertadas, com um gosto gástrico na boca

E com a sensação de que se fumar um cigarro agora, o fumo levará todos os pecados

Que a noite insiste em manter quase como se uma recordação legítima.



09.06.2011



Turku



João Bosco da Silva






Acordo de manhã,

Olho-me ao espelho:

Desculpe, foi engano.


Turku


09.06.2011


João Bosco da Silva