Enquanto Se Dorme A Realidade Fermenta
Não pode ser, ainda é cedo, mas alguém anuncia o fim do mundo,
Em forma de mulher histérica prestes a explodir em milhões de aborrecimentos fatais,
Só resta fugir para o bunker de luxo com os amigos inesperados e o luxo
Publicidade enganosa, mas que mais pedir da sobrevivência num mundo de brincar
Às probabilidades pequenas? Cimento, um divã sem colchão, latas vazias de cerveja,
Se ao menos cerveja para esperar a morte e que se lixe, se for para morrer
Que seja com os olhos postos no Sol, atravesso um buraco na parede
Em direcção à luz do pecado e da morte e finalmente luxo, uma casa com cortinas de veludo
Vermelho, colunas de mármore branco, sofá de pele branco, uma cama gigante
Em forma de Lua à espera, uma temperatura perfeita com o Sol a ameaçar um fim do mundo.
A perfeição não se pode sentir sem companhia, e pela janela agarro uma morena
De vinte e dois, vinte e cinco anos, com o cabelo à francesa, olhos portugueses
E lábios desesperados por abuso. É o fim do mundo, o dia tem já a cor do crepúsculo
E de uma forma mais natural do que um cumprimento cordial, começamos a procurar
Os limites da carne e ela gosta que lhe explore as vísceras com violência,
Não lhe vejo a cara nesta posição, mas sinto-a a ser toda à minha volta,
Ela sabe que aquela casa não é minha, que eu não sou de ninguém, mas sente
Que me dou como se fosse a última vez para sempre, num eco pela eternidade,
Ejaculo-lhe como se a vida se escoasse toda para dentro dela, um excesso impossível
De mim, e apercebo-me que não trocamos uma única palavra.
Os meus lábios abrem-se e o frio da madrugada acorda-me com a pele colada
A um sofá castanho, uma dor de cabeça a ser gente ao meu lado
Com as calças ainda desapertadas, com um gosto gástrico na boca
E com a sensação de que se fumar um cigarro agora, o fumo levará todos os pecados
Que a noite insiste em manter quase como se uma recordação legítima.
09.06.2011
Turku
João Bosco da Silva