sexta-feira, 1 de julho de 2011


Senhora Professora Eu Confesso


Numa esplanada na companhia de uma checa, loira, de Bukowski no colo e o perfume

De há dois verões que passa à minha frente como um fantasma, com o Bukowski

Numa esplanada, invariavelmente o Bukowski no fim de mais um dos seus livros de poesia

(Crónicas curtas) e não há melhor arte que a verdade, melhor poema que uma confissão:

Lembro-me de ti, daquela noite sem esperança, na terra pequena cheia de sonhos demasiado

Possíveis quando te conheci, chovia e eu seco, chovia e tu não te calavas e eu já adivinhava

Que me ias espremer o leite, difícil depois de tanta cerveja, tanto whiskey e resignação

Ao Inverno inevitável, a primeira noite adiada e lembro-me da última em que mais do que

Entrar dentro de ti, perdi-me entre os aromas do nosso corpo, esqueci-me do sabor

Do meu suor e decorei a sinfonia da tua excitação quase em forma de chuva,

Outros bebiam as cervejas já quentes na sala, querendo acreditar que nós perdidos

Nos corredores quando eu perdido em números invertidos, a minha língua a manter o ritmo

Do teu clítoris e depois de muitas páginas não me conseguirei vir, mas cheguei e no dia seguinte

(Dali a umas horas) o baptizado da filha de um dos meus melhores amigos (dos que dão passos

Reais na vida) e à noite o beijo já sem sabor da adolescente, mas eu já incapaz de amores

E outras tretas, ainda com o sabor da tua excitação morena nos meus lábios, já no meu estado

Anormal (tido como normal por quem me conhece “realmente”), a tentar jogar dardos

Com um pescador, um polícia reformado e o pai da criança baptizada, fazer o que sei melhor,

Perder, mesmo entrando, mesmo espetando, ferindo e tendo deixado marca,

Tu sentada a querer mais, eu a sentir que tu a querer mais, mas eu tão pouco e tudo o que dou nunca suficiente, mesmo que todo.

Acredites ou não, pararam duas Lindqvist, irmãs com cabelo de cobre e olhos absorventes de pilas

Na boca e eu sei disso porque uma fez de mim Cristo no deserto a evitar milagres, iam jantar,

Ficaram de pé à espera de um convite e eu limitei-me a matar a conversa, lentamente, dando

Mais atenção à cerveja que a elas, até a sua fome se tornar mais dolorosa no estômago

Que nos outros vazios, até se irem e me deixarem acabar este poema tão desnecessário

Como tantos outros poemas, lidos e relidos, até à exaustão e a morte algo tão pequeno

Quando lá fora, um medo, uma possibilidade, como aquela noite em que te conheci

Senhora Professora e não penses que não me lembro de ti.



30.06.2011



Turku



João Bosco da Silva