A Morte De Um Mestre
“oh bela morte num dia
seguro em qualquer parte
de gente em volta
atenta à espera de nada,
um nó de sangue na
garganta
um nó penas duro”
Herberto Helder
Sei que chovia, digam o que disserem, chovia e anoitecia em
todo lado,
Isto da terra ser esférica não é para todos os casos, até o
coração
Se estende e fica fino como um mapa para lado nenhum
Quando morre um mestre, os amores esses duram sempre
enquanto
A carne não arrefece do pecado ou a promessa que se arrasta
tiver olhos,
Também chovia naquele fim de tarde escuro debaixo da tua
varanda
Enquanto degustavas mais um cigarro e me contavas que a vida
Nem sempre cheirou a uma carpintaria num dia húmido,
Sempre que podias, mostravas-me o segredo do teu cabelo
branco
E sentia-me mais cheio, com tempo, coisa que afinal tu não
tinhas,
Naquele dia, sei que chovia, sei que ainda chove, cá dentro
onde moras.
22.04.2016
Turku
João Bosco da Silva