Será que os poetas vão à praia e mostram as suas pernas
brancas, será que fodem além
Das dadas nos gabinetes bolorentos, será que bebem cerveja
em tascas de aldeia e jogam às
Cartas com velhos que nunca leram um verso, será que ouvem
também as histórias desses
Velhos, andarão de transportes públicos contribuindo para o
cheiro azedo a virilha suada,
Também usarão o olhar para desviar as cuecas ou só a
influência que conquistaram a dar o
Deles a quem se despede dos últimos tesões, será que são
fiéis ou infiéis a si mesmos, sempre,
Terão marcado com passos inocentes o caminho de terra para
lado nenhum e salpicado o pó
Com sangue infantil, será que vêem adaptações de Chuck
Palahniuk ou de Don Delillo, ou
Viram Salo antes dos dezasseis, comerão pipocas no cinema e
levarão camisa e gravata,
Levaram ou levarão porrada, os poetas, sei que os há que
merecem, será que também morrem
De acidente de carro, ou alvejados no meio da rua por um
poeta rival, ou esfaqueados por
Ciúmes ou por uma infidelidade em nome da falta de
imaginação, será que também sentem
O cheiro das casas de banho públicas e têm saudades de abrir
um armário de naftalina,
Terão bebido eles sangue com vinho do Porto ou só escrevem
aquilo a que nunca o seu corpo
Se atreveu, será que vão nus à sauna e metem conversa com
quem estiver ao lado, ou terão
Medo do que quer que seja, perder um verso, será que têm
pilas das que crescem ou das que
Não surpreendem quando aquecem, terão a prontidão de um
louco para foder, em qualquer
Lado a qualquer hora sem outra razão a não ser a vontade, ou
estarão todos cerimónias
E constrangimento, a tratar a cona por você e, a menina tem
muito talento, enquanto a irmã
Da gaja que mete o dedo no cu finge dormir e espera que a
recuperação seja rápida, do que
São feitos esses, os que escrevem o que todos dizem apreciar
e fingem perceber, e nem eles
Conhecem o que lhes usa as mãos, os dedos e lhes obriga os
olhos à solidão das palavras
Palheiros
26.06.2013
João Bosco da Silva