A
Imperatividade Do Vazio ou Um Título Qualquer
para Tomáz,
É geralmente
quando o vazio aperta, que misturo cerveja e poesia, as palavras arranco-as
Como se me
arranhasse e ao mesmo tempo mais um gole, que parece ficar suspenso, não
Quer cair,
um pedaço de pele nas unhas, como se me incomodasse estar a sentir que não
Devo estar,
não aqui, não assim e então engulo mais um pouco de cerveja, um pouco mais
De algo que
não eu, enquanto me arranco aos poucos, a cerveja amarga que empurro para
O silêncio
onde moram todos os outros gritos, como quem lava os lençóis depois de lá ter
Perdido os
limites que a alma permite ao corpo, quem não tem alma, tenta criar uma com
Palavras,
para depois a poder sujar, já que não tem outra utilidade a não ser sujar-se,
Digo à loira
que me humedece o copo e os dedos que o envolvem, quando me tocas eu existo,
Também me
sinto invisível quando aqueles olhos não estão, a poesia torna-se num grito
histérico
Quando ninguém
está para ouvir, enquanto se acumulam cigarros e segundos apagados em cima
Da mesa de
um café, para depois serem atirados para o fundo de um saco de lixo, por uma
empregada
Que não sabe
o nosso nome, menos vazio, há um tipo de sujidade que limpa, pelo menos
O vazio, por
isso bebo, por isso me contamino em interiores anónimos, me sacio com a fome
Dos outros,
porém o abismo aumenta a cada dentada de mais nada e só a distância entre o
Que sou e o
fim se vai encurtando, só na morte me aproximo dos grandes, os meus lábios
Cada vez
mais longe da cerveja, exige-se um ângulo maior entre o copo e o mento, no fim,
Perde-se a
objectividade, sente-se menos, mas o vazio permanece, ri-se dos versos
ridículos
Que quase
foram versos dignos, mas acabaram por ser os que em cima pesam a tentar
Ser um
poema, um copo vazio abandonado numa mesa, onde alguém se sentou, te procurou
Numa caligrafia
de sismo, mas encontrou apenas o nome que falta e dá corpo ao vazio
Que se
tentou em vão preencher, o templo em ruínas de uma deusa de carne e sonho
Onde desejo
adormecer, até os seus lábios me acenderem o dia que consumirá o vazio.
19.10.2012
Turku
João Bosco
da Silva