Cosmopolis
“Talent is
more erotic when it´s wasted”
Don Delillo
O tempo
passa e eu sentado, nunca realmente no mesmo lugar, derreto num ângulo
Pouco credível
e lembro-me dela falar com o namorado de manhã, ao acordar
Ao meu lado
num quarto do hotel onde ela trabalhava, há quem passe com o tempo, eu deixo
Que ele passe
por mim, sinto o álcool aumentar no sangue, os neurónios gostam, suicidas
Satisfeitos
e ela dá-me um abraço e procura algo como amor ou paixão, vá-se lá saber
Naquela ressaca,
num beijo, tenta justificar toda a sua traição sincera escorrida na minha pele
Afiada, ela tão
deliciosamente bem aparada, sem atrito em lado algum, depois do aperitivo
Até garrafa
vazia, roubado ao bar do hotel, na busca de algo que, se esteve, foi até ver os
meus
Descendentes
condenados naquele estômago árido e a neve lá fora a crepitar nas minhas
Orelhas,
umas horas antes, derreto, consumo-me em chamas que tento apaziguar com goles
Loiros,
tinha o cabelo quase curto, quero acreditar que era ruivo, mas o nome ficou
naquele
Beijo desesperado
com as malas ao lado, mais vazias e é triste lembrar-me nos dedos da sua
Deliciosa viscosidade
e não me lembrar da cor dos seus olhos, ou de algo à sua volta,
Desde o
momento em que os nossos lábios se despegaram até ao momento em que me
Apresentei na
recepção do hotel, nem um nome, não me movo, o mundo trata disso por mim
E não tenho
em mim todos os seus sonhos, tenho-o todo em mim e quando morrer, será o
Mundo que
ficará mais pobre já que eu levo o que trago comigo e nada mais, nem um sonho.
12.06.2012
Turku
João Bosco
da Silva