Viagem Numa Guinness
Morri-me e nunca mais serei capaz de acordar numa manhã quente de Agosto
Em casa dos meus avós, não sem uma dor de cabeça e um olhar comprometido
E um relógio parado nas seis da manhã com as unhas cheias de terra e de alguém.
Os joelhos tornaram-se blindados e a cerveja deixou de se beber às escondidas
Quando todos dormiam a sesta: à luz do dia tudo perde o mistério e nem à noite
O cemitério tem gente, só mortos, espelhos do futuro de todos, pequenos montes
Sagrados (que é pecado, não pises) e flores secas, esquecidas e tantos nomes
No meu sangue que eu desconheço. Já não existe aquele que sorria sem vontade
De entrar na carne de alguém, mostrando um desenho colorido para o futuro,
Morri-me e agora restam-me palavras negras a dizer que poema e poucos olhos
No presente que me façam valer a pena. Se ao menos pudesse adormecer e acordar vivo,
Leve, mais eu e menos mundo, apesar de sóbrio, numa manhã luminosa
Em casa dos meus avós e levar as vacas ao lameiro da minha solidão sincera,
Regressar às lágrimas da dor física e da frustração por um brinquedo
Que não dormirá debaixo da minha almofada… o Sol brilha e tudo é negro.
16.04.2011
Turku
João Bosco da Silva