segunda-feira, 24 de maio de 2010


Ninguém Me Mor(r)a

O fogo que se propaga pelo esófago até cair
Lá no fundo onde também não sou eu
Dentro do corpo, perto de onde moro,
Mas não sou.

Sou esse fogo a atravessar este corpo
Emprestado para a passagem das coisas.

As mãos capazes de tudo,
Capazes de entrar em todos,
Mais profundas que os olhos,
Atrás dos quais não habito.

Sou todos os pecados das mãos inocentes,
Todos os milagres roubados ao vazio.

Aquela imagem cá dentro que os olhos roubaram
Ao momento que não é mais,
Que não é minha, que nem vejo
Apesar dos olhos abertos tão longe de mim.

Sou aquele mundo que se acende
Quando os olhos se fecham mesmo abertos.

Entrar no corpo naturalmente lubrificado
Pelos sussurros da língua nas orelhas e no pescoço,
Mesmo que eu fique sempre de fora
A assistir às conquistas do meu corpo.

Sou a confusão dos dois corpos
Na noite quente e suada, roubada ao verão que passou.

24.05.2010

Savonlinna

João Bosco da Silva