quinta-feira, 28 de outubro de 2021

 

Novembro

 

Volta o mundo a encerrar-se numa apneia escura,

Numa nudez de ossos e ramos fantasmagóricos

Erguidos ao mercúrio frio do céu demasiado baixo,

Voltam a ser poucos os prazeres que façam o dia valer

O gasto da vida, um café quente que não se deixou queimar,

Acordar sem a necessidade de um despertador,

O silêncio na casa para te receber de braços abertos,

Espaço para respirar e suspirar em segredo,

Sacudir dos cantos do bigode o que ficou dos sonhos,

Pouco se levará daqui, a não ser que se inventem

Novos pecados, transgressões ainda permitidas

A cadáveres ressequidos pelo cansaço e pela derrota,

Volta a luz a ser rara, o cérebro mirra, como as folhas

Da figueira, a poucos dias de Novembro, nada interessa

Agora, a primavera impossível também há-de chegar.

 

28.10.2021

 

Turku

 

João Bosco da Silva