sábado, 27 de maio de 2023

Acabar Verões como se Acorda

 

Em tanta madrugada me foste a insónia,

Agora de olhos abertos te esqueço,

No entanto, as décadas não escondem

O que a geada e o fim do mais longo verão,

Rasgaram na pele dos sonhos e lá estamos nós,

Tu divorciada, eu perdido ainda,

Sentados num muro, num fim de tarde,

No ar a cor dos incêndios que acumulamos,

No teu sorriso outras tragédias

Que nos afastaram da juventude,

Os teus olhos outros de alguém

Conhecido e distante, nunca tocaram

A cor daqueles dióspiros que amadureciam

Mais rápido que as nossas ilusões,

O mundo continua um estranho

Mais propício a desencontros,

Os teus lábios um segredo que se finge

Compreender, porque é mais fácil continuar,

Assim, a acabar verões como se acorda.

 

 

Turku

 

27/05/2023

 

João Bosco da Silva