domingo, 15 de julho de 2012


Quando O Esteves Partiu

Quando ele se foi, o Sol nasceu no dia seguinte, aqueceu-lhe os ossos ausentes,
Iluminou todo o lugar onde ele não estava, o carro pegou à primeira, nenhuma pulseira
Se partiu e as missangas não choveram para o chão da festa, a música não parou nem um minuto,
Continuam a mudar a roupa interior e a tomar duches ao chegar a casa, para evitarem
Observações como, tens um cheiro estranho, que andaste a fazer, e a água a pingar culpa,
Culpa, culpa quando ele se foi, desconhecidos tornam-se os melhores amigos dos amigos
Que afinal só umas cervejas juntos e depois pouco mais, anos apagados porque se cresce,
Diz-se que se cresce e pára-se tão cedo que até dá vontade de morrer logo, antes de erros
Maiores, as vacas são digeridas, a erva é ruminada por outras vacas e os lameiros dizem
Que hoje monte, as vinhas dizem que hoje monte e delas, só uns muros de pedra
Onde tudo ardeu, naquele vale de ninguém que evita o olhar do Sol, desde que ele se foi,
As irmãs também de joelhos, quando o mundo tranca a porta, ou uma parede
Esconde a vergonha esquecida na última garrafa, alguém o lê e diz que ele aquilo que não foi,
Foi aquilo que agora é, uma partida em direcção ao inevitável, ao anoitecer, porque do outro
Lado um novo dia, desde que ele se foi, dizem, as noites são tão escuras como antes,
As ruas da madrugada continuam a ecoar os passos nos paralelos em ruas cansadas de cansaço,
As mulheres continuam a abrir as pernas aos amigos dos maridos e os maridos continuam
A ter erecções quando as amigas das filhas se sentam escandalosamente no sofá onde o futebol
É a única taquicardia da semana, o trabalho continua a parar os relógios, e as manhãs,
São ainda cinco minutos depois de o despertador levar um murro, com um punho cheio
Do dia anterior, desde que ele se foi, isto, isto continua o mesmo como antes de ele cá ter estado.

15.07.2012

Turku

João Bosco da Silva