quarta-feira, 16 de julho de 2014

Hipocampo

Há perfumes como sorrisos, mas os lábios vermelhos não bastam, nem o afogamento
Dos dedos num desejo sem sal, há viagens que mais valem ficar na solidão ou em casa
Que é onde geralmente se dão as maiores voltas, é difícil viver no meio de tanto,
O corpo, os olhos, ainda não se habituaram a grandes aglomerados de pedra, carne
E hormonas, há cores que ainda não foram traduzidas no cérebro, vivem encriptadas
No nosso fascínio ignorante, só os cheiros nunca se estranham, tudo pronto para receber
E atravessar o etmoide a velocidades primitivas, onde se ilumina a sinceridade básica
Até lá baixo, até à origem do mundo e o fim de tudo, o Sol revela tanto quanto as sombras,
É tudo uma questão de olhar e inspirar fundo perto da virilha, tentar decifrar a magia ou
A química possível, destilar do vento o rumor de uma possibilidade, alguém Lolita,
No meio de uma confusão de monóxido de carbono e náuseas que ecoam na ruas
De uma tarde esforçada por vida numa facilidade quente de revelação e carne fresca.

03.07.2014

Turku


João Bosco da Silva