Hipocampo
Há perfumes como sorrisos, mas os lábios vermelhos não
bastam, nem o afogamento
Dos dedos num desejo sem sal, há viagens que mais valem
ficar na solidão ou em casa
Que é onde geralmente se dão as maiores voltas, é difícil
viver no meio de tanto,
O corpo, os olhos, ainda não se habituaram a grandes
aglomerados de pedra, carne
E hormonas, há cores que ainda não foram traduzidas no
cérebro, vivem encriptadas
No nosso fascínio ignorante, só os cheiros nunca se estranham,
tudo pronto para receber
E atravessar o etmoide a velocidades primitivas, onde se
ilumina a sinceridade básica
Até lá baixo, até à origem do mundo e o fim de tudo, o Sol
revela tanto quanto as sombras,
É tudo uma questão de olhar e inspirar fundo perto da
virilha, tentar decifrar a magia ou
A química possível, destilar do vento o rumor de uma
possibilidade, alguém Lolita,
No meio de uma confusão de monóxido de carbono e náuseas que
ecoam na ruas
De uma tarde esforçada por vida numa facilidade quente de
revelação e carne fresca.
03.07.2014
Turku
João Bosco da Silva