terça-feira, 25 de setembro de 2012


Enquanto Se Espera Por Menos

Acordar durante a noite com a vontade de morder toda aquela carne que se deixou
Entre um e o outro lado de uma ponte invisível, as gotas de suor incomodam a presença da
Almofada e o desespero não deixa dormir ninguém com o ranger dos dentes metálicos,
O mundo perde-se a cada promessa, o mundo cresce a cada segundo que se perde
E tudo cada vez mais longe, todos cada vez mais mortos, as pálpebras cada vez menos
Vermelhas nas tardes quentes de Verão quando fechadas de prazer, as pálpebras
Cada vez mais de madeira, nuvens numa noite de luar, a Lua amarela como os dentes
Daquele cão bêbado que leva as almas que conseguiu enganar através do corpo,
O mundo lá fora arde e acorda-se com a boca cheia de vazio, cospe-se como se terra,
Mas quando terra for, nada a fazer, arrancar as unhas se der tempo, ou cruzar as mãos sobre
O peito e fingir que se dorme à espera que a carne deixe de ser necessária para tudo o resto ser,
Uma valente treta aquele ponteiro dos segundos, passos num corredor entre um nada e outro nada,
Ou a ponte onde se deixou toda aquela carne, só ficou a vontade nos dentes, o desespero
Que torna as mãos em raízes fantasmagóricas, que agarram como quem rasga quando
Sentem que estão a perder o controlo, que afinal só a ilusão do controlo, nem o ar da almofada
Se suporta, nem a chuva suspensa à espera da consciência de vidro de uma janela acordada,
Um candeeiro em cima de uma mesa onde algum alquimista tenta transformar palavras em carne,
Morre de fome e insónia, acreditando que as palavras capazes de milagres, mas Verão
É uma palavra tão fria como o que não se vê agora, tem o mesmo peso de deus, e enquanto
As folhas amarelecem, não passa de uma vibração nas fibras de um coração frio e faminto.

24.09.2012

Turku

João Bosco da Silva