sábado, 2 de abril de 2022

 

Paroxetina à Beira do Rio

 

Disse-lhe que por causa da paroxetina,

Era capaz de nem sequer me vir,

Por isso foi assim, estacionados à beira do rio,

Mesmo antes da ponte romana, tenho a certeza

Que um luar qualquer de Abril, ela encostada

À porta e eu sem acreditar que aquele corpo

Me recebia, a primeira vez que a vi foi através

Da vergonha de umas janelas com os vidros

Remendados com fita cola, eu um garoto,

Ela já uma bela mulher com a prima,

Muitos a tiveram, mas mais a quiseram,

Se calhar nem me venho, procurando no fundo dela

Não sei que redenção, enquanto os seus olhos

Me penetravam até ao mais nu possível,

Que logo se fecharam quando me arranquei

Dela e subitamente me verti todo sobre

O seu corpo húmido, num vazio pleno de confissão

Antes da primeira comunhão, afinal vim-me

E bem, pensei, enquanto ela limpava da cara

O excesso da minha vontade e toda a minha confusão.

 

01/04/2022

 

Turku

 

João Bosco da Silva