quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

As Dimensões Das Cordas

Sempre julgaste que crescer não passava de uma alteração no ângulo
Com que o Sol te desenha a sombra no pó do caminho,
Entretanto o teu pai a correr no prado devastado pelo monte
Com os sapatos de Domingo para a fotografia,
Os únicos, com uma idade que nunca lhe imaginaste
E hoje da idade que nunca te viste ter,
 A cerejeira também secou e seria um luxo
Se o avô trancado nela pelo apodrecimento fora,
Tudo se perde, e de tudo o que se perde,
Só cresce a ausência do perdido, na companhia dos sonhos
E das desilusões, arrastam-se as pernas da alma,
Num corpo violado tantas vezes pelo que tinha que ser,
O pó que se levanta no caminho quase tão efémero,
Mas até ele, como o nome, se limpará dos sapatos
Dos que seguem atrás, perseguindo sombras com medo
Dos sonhos que prometem chuva, lá para as horas das cordas.

28-01-2014

Coimbra


João Bosco da Silva