quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

 

Madrugada

 

Seis da manhã, não tarda, nascerá dourado o glorioso desespero azul,

Gelado como os sonhos lúcidos, não consigo lembrar-me do teu sorriso

Sem tristeza, que fiz eu dos teus olhos, da inocência que escolhi nunca ver,

Haverá pão fresco no ar dessa distância onde moras, perdoa-me

Todas as madrugadas e todos os cheiros intrusos que arrastava

Atrás do meu desejo por outras perdições, para a nossa cama quente do teu sono,

Dos amores sacrificados, nascem as manhãs de inverno,

Timidamente rasgando as trevas, sou todos os desencontros futuros.

 

11.02.2021

 

Turku

 

João Bosco da Silva

 

A Cor Do Rio

 

Não me lembro da cor da água do rio, naquela tarde de verão,

Lembro-me da aproximação ingreme das fragas abertas pela corrente

E os anos, lembro-me do brilho do Sol na água e dos teus olhos nos meus,

A irmã mais velha, fosse a cor da água a que fosse, estava-se bem

Ao teu lado depois do mergulho, não me lembro do que falamos,

Mas nada me pareceu mais importante e ao fim da tarde, quando o pó

Se despedia e os montes se pintavam de ouro vermelho,

Olhei as minhas mãos e pela primeira vez vi que eram as mãos de um homem.

 

Turku

 

10.02.2021

 

João Bosco da Silva