domingo, 12 de setembro de 2021

 


Emigrante

 

Que fazes aqui ainda, neste hotel da capital, com a pele ainda morena

Do sol que te conhece, que bebes com uma sede de anos,

Essa pele que treme e estranha, estranha sempre, este súbito fim

De Verão nórdico, que nem sempre se concretiza, que fazes ainda,

Regressando como se fosse uma obrigação, a um país ao que deste

A juventude e nunca será teu, onde diluíste a alma até te esqueceres

O que significam as raízes que um dia te apertavam o peito

Até uma seiva chamada melancolia ou saudade te esmagar com doçura,

Regressas sem a graça da juventude, no hotel nenhuma recepcionista

Te acompanhará e adormecerá no teu quarto, ao teu lado, vazio,

Onde a escuridão não é absoluta por causa da luz do ar condicionado,

De manhã deixarás umas chaves anónimas na recepção,

Ninguém te abraçará numa despedida definitiva de quem se deu

Completamente numa noite, partirás de regresso ao limbo onde pertences,

Levando os dias que te levaram a juventude, à morte e ontem

Já foi demasiado tarde quando partir e regressar a casa se tornou

Na mesma coisa, jamais pertencerás a um lugar a não ser ao caminho.

 

Helsínquia

 

04.09.2021

 

João Bosco da Silva