“Não Toques Nos Objectos
Imediatos”
Quantas vezes, me sento
naquele banco de jardim à geada, à espera de a ver passar
E agarrar-lhe uns versos,
naquele mesmo banco de jardim, enquanto as luzes da vila
Se acendem aos poucos e o
ar se enche de convites para jantares e eu só com uma fome
Dentro, entre a pele e a
carne, uma sede no pericárdio, quantas vezes me sento,
Com um livro no colo, só
para me impôr uma presença defunta apreciada por muitos,
Afinal, nem tantos entre
os que às vezes me emprestam o reconhecimento de um olhar,
Naquele mesmo banco onde
beijei contrariado, onde me deitei num colo indesejado,
Onde descasquei as
lágrimas de uma tristeza cujo sumo nunca mais consegui secar,
As unhas lascam a
madeira, os dentes batem, dizem que tremo à geada, mas é outro
Frio, da mesma natureza
da fome, e ela não sai, não passa, se calhar nem está,
De certeza que não me
existe, só eu estou preocupado em dar-lhe uma alma ao corpo
Que nunca se sentará
naquele, neste banco de jardim, sempre vazio, onde nunca estou
E onde tantas vezes me
sento, à espera, mas só o sono vem, e a derrota e a morte.
18.02.2013
João Bosco
da Silva