Inari
As raposas escondidas no parque de Ueno, naquele santuário
pequeno,
Trouxeram-me mais de mim do que o que já julgava ter
perdido,
Em vez de fumo de enxofre entre fragas e madeira pregada com
devoção,
O fumo do incenso, purificando-me todos os dias que me fizeram
ser,
Apagaram-se naquele silêncio improvável todos os autocarros
Que aos poucos me arrancaram de mim, naquela escuridão,
Senti uma centelha a querer ser chama, uma quase alegria de
estar,
Enquanto as raposas quase com sorrisos de pedra me permitiam
a presença herege,
Gozo aquele momento como uma enorme sede de brilho de quem
habita o vazio,
Então, alguém entra no meu templo, e apaga tudo com o
silêncio alheio,
Saio à pressa e regresso à fuga resignada que é viver com
tão pouco sobre tanto.
18.12.2015
Turku
João Bosco da Silva