quarta-feira, 19 de setembro de 2012


Sobre O Poema

A estética de um poema mede-se na extensão da dor dos versos, as cordas mais esticadas
Produzem uma vibração mais afiada e os olhos gostam de vértices que cortem a noite
Dos dias, também o cabelo a cair no chão é de valorizar, não o que a vassoura empurra
Para o quarto escuro, ou para o cheiro do estábulo, já que o cavalo de Nietzsche e o burro
De Zaratustra são deuses de diferentes esferas mitológicas, a queda é mais a ter em conta,
A cor do cabelo cortado na queda, a sua vibração silenciosa, descolorado do Sol de outras
Infâncias menos púbicas, não esquecer a desvalorização de todos os sentimentos em forma de
Título, tamanho objectivo e simplificado, tem o interesse das pulgas, uma comichão indesejável,
Devem centrar-se os dedos invisíveis, os dedos de outros trabalhos, ainda húmidos na recordação
E desejar com vazio o som de uma verdade espelho, uma verdade diferente a cada cara,
A cada momento, a cada gesto, humor e no fim partir essa verdade espelho e imprimir os estilhaços,
A estética de um poema mede-se quando não se tem vontade de escrever um poema a dizer
Diferente sentindo o mesmo, e deve ser geralmente ignorada, no fundo o importante é saber
Inspirar as palavras, o cheiro à tinta impressa, ou do papel amarelecido pelas cirroses dos anos,
Inspirar o musgo das palavras, o suor, o Sol, a água salgada, ou serão lágrimas, o brilho do granito,
O calor de Agosto, o dedo que dentro dela ainda cheira ao próprio esperma, esse dedo, deve
Provar-se e só depois se deve considerar o valor do poema, que subtraindo o que é vital, não
É nenhum, subtraindo os olhos de quem o cheirará e reconhecerá os seus cheiros no meio
Da lixeira onde se acorda, ou se deita, o poema tem o valor da purga e alivia como desistir
De um pouco de nós, sentados numa cadeira de barbeiro, a ver-nos cair levemente,
Como se de versos se tratasse e o melhor poema é aquele em que caímos mais fundo.

18.09.2012

Turku

João Bosco da Silva