Sobre O
Poema
A estética
de um poema mede-se na extensão da dor dos versos, as cordas mais esticadas
Produzem uma
vibração mais afiada e os olhos gostam de vértices que cortem a noite
Dos dias,
também o cabelo a cair no chão é de valorizar, não o que a vassoura empurra
Para o
quarto escuro, ou para o cheiro do estábulo, já que o cavalo de Nietzsche e o
burro
De
Zaratustra são deuses de diferentes esferas mitológicas, a queda é mais a ter
em conta,
A cor do
cabelo cortado na queda, a sua vibração silenciosa, descolorado do Sol de
outras
Infâncias
menos púbicas, não esquecer a desvalorização de todos os sentimentos em forma
de
Título,
tamanho objectivo e simplificado, tem o interesse das pulgas, uma comichão
indesejável,
Devem
centrar-se os dedos invisíveis, os dedos de outros trabalhos, ainda húmidos na
recordação
E desejar
com vazio o som de uma verdade espelho, uma verdade diferente a cada cara,
A cada
momento, a cada gesto, humor e no fim partir essa verdade espelho e imprimir os
estilhaços,
A estética de
um poema mede-se quando não se tem vontade de escrever um poema a dizer
Diferente
sentindo o mesmo, e deve ser geralmente ignorada, no fundo o importante é saber
Inspirar as
palavras, o cheiro à tinta impressa, ou do papel amarelecido pelas cirroses dos
anos,
Inspirar o
musgo das palavras, o suor, o Sol, a água salgada, ou serão lágrimas, o brilho
do granito,
O calor de
Agosto, o dedo que dentro dela ainda cheira ao próprio esperma, esse dedo, deve
Provar-se e
só depois se deve considerar o valor do poema, que subtraindo o que é vital,
não
É nenhum,
subtraindo os olhos de quem o cheirará e reconhecerá os seus cheiros no meio
Da lixeira
onde se acorda, ou se deita, o poema tem o valor da purga e alivia como
desistir
De um pouco
de nós, sentados numa cadeira de barbeiro, a ver-nos cair levemente,
Como se de
versos se tratasse e o melhor poema é aquele em que caímos mais fundo.
18.09.2012
Turku
João Bosco
da Silva