quinta-feira, 7 de março de 2019

* 

Amarelo agora 
o que dourado -  
Outono. 

Como um marcador 
a um livro 
assim nos conhecem. 

Cansaram-se 
as folhas - 
na carne fome ainda. 

Que sabe a carne 
da luz 
que deseja. 

Apodrecem esmeraldas 
a nu fica 
o que permanece. 

Um passo sem chegar 
já é sair  
do sítio. 

Encher as páginas 
de vazio - 
impossível? 

Quantos eus perdi 
por ter sido 
quem fui. 

Ler Bolaño lembra-me 
da vida que perdi 
por esta. 

Que pretende o vento 
contra o vazio -  
Novembro. 

O vizinho fuma 
mais um cigarro -  
cai a última folha. 

Cinzento e triste 
o dançar nu 
das árvores. 

Todo o amor 
tem a natureza 
do vinho. 

Não há beijo 
que não 
se apague. 

Como tudo eterno 
uma frágil 
bolha de sabão. 

Basta um tropeço 
para se cair 
no Inverno. 

Árvores de Novembro 
sempre estranhos 
desesperos. 

Nada pior 
que acordar 
quando acordado. 

Cheira à cor do incêndio 
na manhã seguinte 
o teu olhar. 

Na Ânfora 
a mortalha apodrecida 
dos meus sonhos. 

Onde ficou a luz 
do verão -  
janelas molhadas. 

Mais rápido seca 
a roupa 
que os olhos. 

Ninguém parte 
na verdade -  
tudo deixa de ser. 

As borboletas 
ignoradas no verão - 
folhas que caem. 

Sem uvas nos pés 
o ano acaba 
em Agosto. 

Nasce no Verão 
oque agora 
arrefece. 

Não queiras acender 
o fósforo 
queimado. 

Escurece o dia 
frio 
fim da infância. 

Cheira a Maio 
em Setembro 
nos teus braços. 

Como um figo aberto 
a doçura 
dos teus lábios. 

Cabe um verão 
em três 
canções. 

Nenhuma cama 
pequena 
quando amor. 

Nunca tocarei 
a ilusão 
que me resta. 

Turku, Setembro-Dezembro 2018 

João Bosco da Silva