quarta-feira, 6 de novembro de 2019

A Hora Mais Escura 

“Te visitan em la hora más oscura todos tus amores perdidos.” 
Roberto Bolaño 

É nesta época de máscaras, fogueiras e cemitérios, da despedida definitiva 
Ao que do verão restou, que todos os amores perdidos, todos de uma vez, 
Visitam o silêncio amargo que se instala na letargia da alma arrefecida 
Pela longa escuridão dos dias, todos de uma vez, confundindo-se  
Numa massa incorpórea de carne, nomes, vozes e promessas, 
A cor dos olhos de um com as curvas e ausências de outros, todos aqueles 
Cheiros nestas mesmas mãos vazias, gostava de ter lido Bolaño no Outono 
Da minha juventude, teria se calhar tocado menos e agarrado mais, 
Evitaria coleccionar tanta ruína, nomes no vazio, pedras nos bolsos, 
Ou não, quem me visitaria agora, se não esta gloriosa ausência, 
Aconchegante como uma lareira onde arde a última lenha numa noite de apagão. 


Turku 

03.11.2019 

João Bosco da Silva