terça-feira, 5 de março de 2019

Haikus - Bali

Cantam os grilos
estrangeiros - 
subitamente em casa.

Não deixes cair
na água
os sonhos maduros.

Da mesma água
os sonhos
e os pesadelos.

Engrossa o ar
antes
da tempestade.

A garrafa vazia
agora cheia
de flores.

O paraíso arde -
fecha
os olhos.

Já bolorento
o pão - 
queimaram o restolho.

Ser-se útil
na solidão -
inútil.

Passa a felicidade
como uma chuva
miudinha.

Mais rápido 
que as lágrimas
secam os sonhos.

Mastigo a frescura
da hortelã-pimenta
como a tua ausência.

Ainda do meu lado
quando acordo - 
menos que almofada.

Sem perder
não conheço
o tamanho das mãos.

Recordar longe
na distância
presente.

Aprende a ser
breve
como a borboleta.

Triste o amor
quando se esgota
A areia.

Silenciosos
os guardiões de pedra
enfrentam a eternidade.

Na floresta dos macacos
ouço os pombos
aflitos.

Engulo a paisagem
quente
como chá verde.

Nos poros de pedra
o sabor verde
dos séculos.

Amadurecem
os cocos
antes da queda.

Crepitam as urzes
em Julho
na memória.

Em fevereiro
todos
os verões.

Esgarram 
nos cemitérios -
ignorantes.

Barrigas cheias
de ridículo -
os colonizadores.

Fazer de três versos
um grilo
no jardim.

Adverte o sapo
antes da tempestade - 
repelente.

Em todas as libelinhas
os olhos
da minha mãe.

Perto do fim
ainda
se caminha.

Fevereiro 2019, Bali