Presságio
Após Insónia E Saudades
“It´s the ability
to commit to writing, to write, the same way that you…are! Anyway!”
Allen
Ginsberg
Começa como
todas as obsessões , mas acorda-se ao invés de se aprender a odiá-las,
Uma cidade
escura, estranha como a própria capital, num restaurante de outra época,
Ao balcão
com o amigo que sobreviveu a todas as negligências e infantilidades do
Fim do
mundo, dois cafés em chávenas brancas, sem marcas a dizer que o café outro
Nome qualquer
a não ser café, o Lobo Antunes passa na rua, à pressa o café esquece-se
E deixa de
existir, a cidade cada vez mais a capital e o amigo, provavelmente também a
dormir,
Espere,
enquanto uma caneta e o ridículo moleskine de todos os dias, um deles,
A prepararem-se
para, se ao menos um dos livros dele aqui, agora isto, e as mãos vazias,
Só um abraço
como se fosse um avô ressuscitado e um balbuciar de quem lê na missa,
Desta, algo
que se sente mais do que se diz, agradeço-lhe pelas palavras que trago dentro,
Mas não
consegui dizer, fez isto sentido, que vergonha, ele sorri e diz que recebeu o
meu livro,
Qual deles,
como, o livro em inglês e italiano, gostou especialmente do poema do barco,
Não sei do
que fala, perdi-o e entro numa sala estranha, parede de um lado de vidro,
Forrada com monitores
do outro e a minha colega ruiva, sardenta, sentada numa cadeira,
Vira-se e agarra-me
no caralho teso e, que tens aqui, finjo não perceber, pensei que era
Para mim,
oh, a cicatriz na sua coxa a latejar-me ao ritmo da taquicardia, as pálpebras
abrem-se
Num quarto
de hotel, ao lado de uma das duas camas, a imagem da ruiva atrás de mim,
À frente
sentada a loira mãe, bonequinha afogada em pó-de-arroz, saco-a fora e ela
Sem palavra
entra-me com um olhar de baixo para cima e acolhe-me com a sua boca quente,
Ela a ideia
da ruiva, a imagem de quem uma noite evitei por o marido ser um bêbado
simpático,
A cicatriz,
a da coxa, a que se adivinha e a que só se sentiria, duas, a porta abre-se e
entra
Um motoqueiro
cabeludo, loiro, barba, um viquingue a vapor de testosterona, a noite apaga-se
E de manhã,
a luz do Sol como uma ressaca de Setembro húmido, o motoqueiro corta lenha
No quintal
de um quinta nórdica e digo-lhe, se não fosse ao contrário isto seria um sonho,
Trataste
quem eu queria como uma puta, mas eu fiz o mesmo com quem me abriu a boca,
A mesma que
tu querias, acordo e a vida parece-me tão estranha e sem sentido.
23.06.2012
Turku
João Bosco
da Silva