Fumo E Espelhos
Noutro tempo nem o caralho da braguilha conseguirias abrir,
agora, os dedos voam,
A língua parece um puto dum boxista a mandar ritmo no saco
até trocar os olhos
Dum mortal quase lá, agora desenterras o trigo podre, ainda
antes da segada,
O tractor a passar mesmo antes de ela enfiar as mamas na t-shirt,
mas o dedo,
Mais lento, ainda lá dentro a olhar para o castanheiro a
fingir que, este ano
Muita castanha, Nietzsche estaria orgulhoso, com o fusíveis
queimados,
A mim não me fodem mais estando ocupadas com futuros pais de
filhos
Que amigos ou colegas e as escadas rolantes a subirem, a
levarem sapos na boca
E a descerem de volta ao autocarro de carreira, de volta às
invictas onde
Se lhe encheu o depósito e anos mais tarde a filha não é
tua, como se,
Querias que fosse, não, não queria, mas em vez de num olho,
nos dois
E rires-te depois com o azedo triste da recaptação de
serotonina a rebentar-te
Nas horas do descanso de dobrar camisolas e calças e
ajoelhares-te
Para levantares caixas de roupa, baixares a roupa para
levares com a carne,
Remédio para o aborrecimento das cidades de província, nunca
mais me pagaste
Um pastel de nata com um café, nem ao menos um iogurte no
frigorífico
Quando a boca seca dos teus lábios alcalinos desembrulhados
pelo álbum fora
Dum cantor que já nem te lembras, mas lembras-te que rãs e o
aniversário
Do teu primo nos motores de rega que te frisavam o cabelo,
não é,
E as rãs a coaxarem com ela a dizer que sangrava na manta do
piquenique
De fome, mas depois com as calças brancas na invicta achou
que demorava,
Quando regressou de dar duas chapas de água nas beiças no
bidé avariado,
Meu deus, quanta pizza já comi nesta vida, tenho compensado
com whisky decente
As fodas à confiança a ver se me desinfectam a alma e a
frigideira com a omelete
Esquecida entre foda e fumo quando quase a vir-me, foda-se
que morremos aqui
Uma morte nada pequena, mas nada, fumo, muito fumo nesta
vida, mais nada,
E guardo estes pedaços de fotografias numa caixa de whisky
numa ilusão de imortalidade.
29.09.2015
Turku
João Bosco da Silva