terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

 

Poetas Periféricos

 

A quantos graus está o teu mundinho, mete mais lenha,

Mas quê, já cortaste as árvores todas há anos,

Quem vais culpar então desse nevoeiro cerebral,

O teu pai, a mamã, foram os meninos a quem bateste

Na escola, não foram suficientes, o problema foi termos

Nascido entre dois mundos, se te perguntar se gostas

Dos INXS, que me dirias, que não ligas a bandas modernas,

Mesmo que te diga que têm uma música sobre ti,

Todos gostamos de levar à nossa maneira

E nada disso nos torna especiais, apenas nos torna

Naquilo que somos, tenho muito pensado,

Nas vezes, tantas, em que me devia ter deitado afogar

Ao rio, mas o rio levava pouca água, ou premido

O gatilho, mas então quem limpava a esterqueira de miolos

E merda, só vos digo uma coisa, há quem limpe,

E a corrente, leva sempre o que levar, normalmente

Um cadáver fica sempre pelo caminho, agarrado a um amieiro,

Ou negrilho, quase sempre estrangeiro, inglês,

Sem família, ou pescador pobre, quando o que interessa

Não convém a quem interessa, salta, salta, não escrevas

Nem mais uma palavra, não me gastes a companhia,

Nas noites solitárias, depois de ter adiado a morte de alguns,

Depois de acordar e de no espelho não ver vontade de continuar.

 

22.02.2022

 

Turku

 

João Bosco da Silva