segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

 


A Evidência da Inelutabilidade

 

O relógio caminha para as quatro da manhã e exausto,

Pálido como o pior Inverno, tento resgatar-te do vazio,

Um poema de cada vez, e a cada palavra sinto a dor

De quem se afasta a cada braçada em direção à salvação,

Desculpa não ter conseguido encontrar o génio que sonhamos,

Pensei que por esta altura já seria um necromante treinado,

Mas acabei por me tornar apenas numa carpideira sem mestria,

Contudo, enquanto o ácido que me corrói o estômago,

Com uma saudade que dói como uma fome eterna,

Rasgando em dor a madrugada mais escura,

Tento salvar o que ainda de ti vive em mim.

 

11.01.2021

 

Turku

 

João Bosco da Silva

 


O Amigo que me fez Gostar de Livros

 

Por Quem Os Sinos Dobram, ressoando nos nossos dezasseis anos,

Com Nietzsche completo a meias, trocando Descartes por Confúcio,

Os nossos primeiros amores pediam Cem Anos de Solidão,

Eramos imortais e tínhamos sonhos de Kubrick e polpa de tomate

À beira do rio Tuela, vinte anos depois, quando passaste na ponte,

Envias-me a última mensagem, ”Lembro-me sempre das coisas

O tempo passa muito rápido Qualquer dia já fomos Eu amanhã volto para lá”,

E hoje releio e volto para lá também, e tu estás comigo,

Será sempre verão, o tempo não passará e a vida um livro que se renovará,

Sempre.

 

11.01.2021

 

Turku

 

João Bosco da Silva


Ragnarok

 

Guiada por Apolo ou o que quiserem chamar ao destino,

A flecha, inesperada, atingiu mortalmente o melhor dos heróis,

O meu herói, que desde cedo agarrou a vida com vontade e certeza

E a guiou com um sorriso, iluminando os corações mais negros,

Ao verem-te agarrar cada desafio com tal força e dedicação, acender vida em vazios,

Invejaram-te os deuses, que por nunca terem amado, nunca viveram,

Imortais no seu vazio todo-poderoso, apagaram a vida, a quem com duas mortais mãos,

Contruiu mundos inteiros e vidas plenas, amou e foi amado, só um herói é assim invejado

Pelos deuses do Olimpo, mas tu caíste no campo de batalha, lutaste até ao fim,

E as valquírias te levarão até Valhalla, onde me esperarás atento,

Confiante que eu, um dia consiga merecer sentar-me ao teu lado.

 

11.01.2021

 

Turku

 

João Bosco da Silva