segunda-feira, 13 de julho de 2020


No Muro do meu Descontentamento

No muro do meu descontentamento, a vida sempre me soube a pó fino,
Para tamanho abismo no tecto do quarto à noite, onde o mofo proliferava
Nas paredes como o inverso dos sonhos, que aos poucos,
Se diluíram nos anos e com o verdadeiro alcance das mãos,
Mais à frente na encruzilhada, que leva à esquerda ao monte e à direita ao rio,
Entrei nelas, iluminado pela companhia dos pirilampos e estrelas de verão,
Um pouco mais de mim noutro vazio, cada gesto menos eu,
Contrariado quase, inspiro fundo, tentando resgatar a música que os grilos
Ressoavam no cristal quente da noite àquelas horas depois da inocência,
No muro do meu descontentamento, enquanto o cavalo do coveiro pastava
Nas minhas costas o silêncio da minha insatisfação congénita.

Turku

12.07.2020

João Bosco da Silva