terça-feira, 20 de junho de 2023

 


Conversa com Poeta Distante

 

“o homem aponta o brilho instantâneo do mar

ali mesmo se desfaz a eternidade”

Raquel Nobre Guerra

 

A estas horas, não é tinta que traça estes versos,

É a última luz do Sol que este dia verte sobre o azul

E os sonhos desfeitos pelas mãos do homem,

No meu copo não há senão gotas dessa luz

Que os deuses nos permitem a troco de quem sabe,

Tudo, mas tudo é apenas uma cortina que cobre

Por um momento o Sol, que logo se revela eterno

Nos nossos olhos pequenos e o corpo que é carne

E promessa, de pestilência e podridão,

Recebe estes pedaços de eternidade, mais sagrados

Que o pão duro de todas as variadas religiões

E outros sem sentidos, o sol, não tarda, recolhe-se

Para preparar mais um dia, como se todo o futuro

Coubesse atrás dos montes desta pequena ilha,

O ar arrefece e no ar as memórias da juventude

Que nos trouxe ao sublime pleno deste instante.

 

Symi

 

13/06/2023

 

João Bosco da Silva

 

O Fim da Inocência

 

Julguei-me poeta, mas afinal não passava de uma remelosa

Musinha de província, com o brilho do esmalte da juventude

Ainda na pele, não era mais que um fanboy que fumava cigarros

Sentado no passeio à porta do restaurante antes do almoço,

Com o bolso cheio de certezas rabiscadas num sismo que

Ninguém consegue sentir, isto fui até que os cabelos brancos

Rasparam o esmalte e o brilho tornou-se em pó e cansaço

E as palavras o mesmo arremesso baço que pouco alcança,

Quando é ao vazio das estrelas que se almeja, julguei-me poeta,

Afinal apenas carne, criada ao ar livre, que devia ter sido abatida

Antes de perder a frescura.

 

Turku

 

07/06/2023

 

João Bosco da Silva