Amor Em
Casas De Banho
Sonha-se com
amor, aquele que se define com olhares e promessas inversamente
Cumpridas para
sempre, quase se sente a sua certeza no primeiro beijo adiado,
Como se por
medo, incerteza da certeza de não ser certo, tão carne quando calados
Na carne,
quentes húmidos, limitados pelo beijo, sonha-se com o amor e a noite
Traz mamadas
embriagadas em casas de banho de bares povoados por almas que
Se procuram
nos corpos dos outros, uma excitação resignada, um, dois, três,
Dois a ser
uma multidão na companhia de urinóis onde jaz um jantar meio digerido,
Como a
promessa do amor que se sonha eterno, lavado o tédio com vinho e cerveja,
Trevas e
desespero, procura-se o alívio, mas tudo dentro seco, uma uva que esperou
Por
Setembro, mas Setembro já tinha passado, custa manter a pele toda fiel
Ao asco
agonizante de estar a encher a boca onde os nossos beijos foram, quase reais,
A posição de
tantas manhãs solitárias, de um e de outro, a música um ruído que as paredes
Filtram e
fazem quase acreditar que os nossos corações ainda batem, mas só barulho,
Só alguém
que bate à porta, que grita uma pressa, um quase um gemido a dizer
Que ocupado,
quando ali mais ninguém que metade de duas pessoas, que se procuram
No vazio um
do outro, e Setembro tão longe, a noite uma insónia de boca seca,
Hálito à
intimidade do silêncio, rumores do segredo esforçado por se derramar
Na pele que
não espera mais nada que o silêncio antes do beijo, aquele sonho
Que se acorda
com o excesso, demasiada fome a carne, que torna o amor em sonho,
Esquecem-se
as impossibilidades por falta de imaginação, troca-se Pessoa por Bukowski,
Troca-se a
ilusão, a promessa, pela ejaculação fria no esquecimento da manhã seguinte,
Troca-se a
inocência, pelo alívio rápido de carne a envolver espasmos, esquece-se
A arte do
suspiro enquanto se olha o infinito numa parede vazia onde a vemos,
O amor de
outros dias de sono, que hoje procurámos na insónia de casas de banho.
21.05.2012
Turku
João Bosco
da Silva