terça-feira, 19 de fevereiro de 2013


Dança Das Moscas À Volta De Um Poema

Sinceramente, a quem interessa o que tu esperas que passe, onde te sentas e o que te
Escorre desse órgão de emoções a que alguns dizem imortal, o Panero parece obcecado
Com sapos, sapos ao luar, numa noite húmida, as mãos negras de sangue, a química
Cerebral ou algum fio fora do lugar, ainda se compreende, agora os cheiros que te
Tocam no hipocampo, só porque está bem perto do nariz e é de ligação directa,
Quem se interessa quando não se podem cheirar palavras, que magia julgas tu ser capaz
De fazer com palavras que todos os dias se limpam com papel higiénico, esperma uns,
Sapo outros, o mesmo nojo da vida, as moscas dançam no ar cheio de merda, numas
Revistas amarelecidas repousa um cagalhão ressacado, tudo sépia e séptico, a vida,
E sinceramente, quem se interessa com a mesa posta, o teu cão morto, o teu avô
Que morreu num hospital onde nunca te deixaram entrar por seres criança e agora,
Farto da morte dos outros, esperando uns dias que o cansaço vença, mas a vida um
Cansaço que nunca vence até vir o raio que nos parte a todos, mais vale sacudir a garrafa,
Não deixar nada a azedar, que no fim sopra-se e o som o mesmo, o vazio e o impossível.

18.02.2013

Turku

João Bosco da Silva