domingo, 6 de fevereiro de 2022

 

Rei

 

Morreu o Rei, tinha a aparência de uma civilização arruinada,

A cara mais enrugada que já vi e uma voz de incêndio,

Era um homem pobre e parece-me que foi sempre velho,

Nunca soube o seu verdadeiro nome, mas via-o sempre

Que visitava a vila, era uma presença constante

Como um monumento megalítico, dizem que adormeceu

E se ficou, esse raro privilégio dos homens livres.

 

Turku

 

06.02.2022

 

João Bosco da Silva

 

CJ Seoul Tower

 

Lembras-te daquela tarde de sol fria em Novembro,

Monte acima até à Torre Namsan, um dos lugares

Mais românticos de Seul, diziam, tu foste buscar

Uma doçura qualquer, havia no ar algo parecido

A algodão doce e farturas, logo aproveito aqueles

Minutos para consultar a distância, que se engasgava

Àquela hora com um caralho venezuelano

Mais barbudo que eu, mais tarde, quase contrariado,

No hotel, consegui vir-me no teu cu, que próxima

Do fim, decidiste, se calhar porque te deste conta

Do abismo, reabrir para mim, mas já sem o prazer

Daquelas geadas longínquas, se soubesse o que sei hoje,

Tinha ido contigo comprar as farturas ou lá o que

Os coreanos comem em torres de televisão e à noite,

Ter-te-ia fodido o cu com a delicadeza de quem sabe

Que tudo dura pouco mais que uma flor.

 

01.02.2022

 

Turku

 

João Bosco da Silva