segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

 

Relatividades Invernais

 

Este deve ser o décimo Inverno deste ano,

Por esta altura devem ser incontáveis

As novas próteses de anca, a tosse parece acalmar,

Então começam a uivar os cães para os lados

Da Sibéria, miséria puxa miséria e ao contrário

De ser o amor, segundo o Ravelstein de Bellow,

O que nos puxa, é a desgraça, a vontade

De subjugar, é o sangue na neve, é o conforto

Da morte dos outros, distante, a vontade do poder,

Não sei, se calhar foi por estar protegido pela inocência,

Mas parece-me que os anos noventa, tiveram

Mais verões num ano, que estes últimos dez anos.

 

 

21.02.2022

 

Turku

 

João Bosco da Silva

 

Glória da Manhã

 

Às vezes sonho contigo, como sonho com ela,

A vontade é sempre quase uma necessidade,

De entrar, apenas isso, não procurar nisso o prazer,

Mas um espaço dentro do outro, uma aceitação,

Uma conquista num sonho, depois acordo

E o desejo que me empurrava para o mais fundo

Das tuas vísceras, longe como a madrugada,

Às vezes sonho contigo, como sonhava com elas,

Mas não te conto nada, fizeste-me ver o ridículo disso,

Levanto-me e acalmo a tesão com uma longa mijada,

Regresso à cama e quem dormiu ao meu lado

Admira-se, como posso aguentar tanto mijo dentro.

 

21/02/2022

 

Turku

 

João Bosco da Silva