sábado, 5 de novembro de 2011


O Teu Segundo


Em frente ao hospital, ela à espera, fresquinha, com os pulmões ainda cheios de serra,
Aquele ar quente de Junho, com as cearas a dourar, rasgadas por caminhos de terra,
Ela tão farta do desejo que me cria, tantos anos a fermentar uma ilusão que se consumirá
Com a negligência de umas fodas bem dadas, um casamento falhado, tão jovem, a nossa vida.
Estranhamente, sinto a excitação do despertar espontâneo, já com o Sol bem alto,
Consequência da ilusão se ter tornado em pernas abertas nos bancos traseiros
Do seu carro, velhinho, pequeníssimo e os joelhos demasiado barulhentos com medo
Dos tractores que estão para acabar a hora da sesta, os seus lábios a dançar na sede
De carne dentro, és o meu segundo homem, empurrando-me contra o fracasso de nunca
O primeiro em nenhuma mulher, e cada uma prende-se às recordações como uma primeira,
Uma única, cada uma, com os seus medos em doses diferentes, os seus tons de pele,
O sabor dos seus mamilos, os hálitos, os perfumes que perseguem as noites em outras
Companhias, os seus nomes que se tornam em saudade e ela em frente ao hospital,
Com as suas calças brancas, apertadíssimas e eu a adivinhar aquela carne toda a receber
O meu esperma, até ao último espasmo, até se aproximar a hora do último autocarro
Em direcção à serra, à origem, às searas e um aviso, acho que me estou a apaixonar por ti,
Quando na verdade, prepara-te, quero-te só para mim, como se bastasse querer na vida,
Quando nem a vida se quis e é a única que ilusoriamente possuímos, até ao último autocarro.
O vinho do Porto insistia em tornar o quarto mais pequeno, os suspiros preencheram o quarto
Com o fumo dos cigarros que se fumavam entre um orgasmo e o próximo, os lençóis
A imitar a sua carne húmida e lembro-me de ti, naquela festa da aldeia, nós oito anos
E eu com corações nas capas da escola, só porque estivemos sós e não fizemos promessas
E só hoje, os corações fariam sentido, hoje, enquanto esperas em frente de um momento
Sem sentido, onde tudo acabará num último orgasmo, já no Outono, onde tudo começou,
As cearas restolho, a tarde noite, os corações a tua timidez que nem uma língua permitiu
Entre as pernas e até pode ser que eu tenha sido o segundo, mas hoje sou eu quem se lembra.


05.11.2011


João Bosco da Silva


Turku