Húmus E
Corações Dissecados
Piso um
ouriço e a luz do Sol de Outono revela uma castanha húmida, quase dourada,
Acabada de
nascer para acabar entre os meus dentes, inspiro fundo como quem quer absorver
Todo o aroma
do húmus fresco e sinto vontade da sua carne quente quente, de a abrir e me
Encontrar
dentro dela, além dos espinhos onde me escondo, vontade de me enterrar nela
E renascer,
lentamente, eu todo cheio de vida e sombra só o que debaixo de mim, contudo,
Lembro-me
dos corações dissecados, onde se procurou o amor, onde mora, onde cresce,
Onde morre,
mas além da carne, só o vazio onde antes sangue e o amor se calhar esse vazio,
Uma ausência
que dói, como o frio é ausência de calor, e aquece quando presente, será
O próprio
calor do sangue, por isso eu hoje um morto por não a ter entre os dentes da
minha
Vontade, ao
alcance do desejo dos meus olhos, aquela cor de castanha ao Sol de Outono,
Húmida,
brilhante, fresca, com o interior acolhedoramente quente, mas agora só um
Coração aberto
em cima de uma mesa de metal, revelando-se vazio, expondo toda a sua nudez
Inerte de
morte, gritando a verdade muda e impossível para o irmão que ainda bate,
Desencantado,
porque tem que ser, porque ela não está, nem o húmus fértil que a traz à sua
Ausência,
nem a castanha entre os dentes, só o espaço que ela ocupa em forma de saudade
E entretanto,
fecho-me um pouco mais dentro do ouriço, pouso o bisturi e tento encontrá-la
No meu
coração aberto, nas pálpebras que fechadas, numa inspiração profunda que
procura
O aroma da
sua excitação húmida e lavanda, a cor do seu cabelo que persiste na minha
palidez cansada.
Turku
08.11.2012
João Bosco
da Silva