sexta-feira, 12 de abril de 2019

Beirut 

Há dez anos que me julgo velho, só agora estou certo, 
Não sei quem me apresentou à fome de concertina, 
Tenho ideia de que foi a amante turca numa carta 
Que escondi demasiado bem, do perfume tenho a certeza, 
Mesmo que a direcção da memória, desorientada 
Por tempestades que fui conhecendo por acaso, 
Acho que ela vive em Gales, com um velho da minha idade, 
Mudou o apelido, a cor do cabelo ou foi a humidade, 
Ou o vermelho envelheceu, afinal éramos jovens, 
As uvas daquele porto vintage a poucos meses de maduras, 
Mas quando o cheiro a bagaço no ar, já andava a enganar frios 
Com a prima na serra, ainda casada com desilusões, 
Só continua a fome à concertina e sonhos de americanos 
No mediterrâneo, a vontade de ser feliz à chuva no verão. 

Turku 

11.04.2019 

João Bosco da Silva