domingo, 6 de outubro de 2013

De Um Brinde Poético À Distância De Um Abraço

A distância asfixia-nos, mas não aquela que traz horizontes escurecidos pelos anos,
A distância dos horizontes verdes, dos verdes anos, ou simplesmente do tempo
Que apenas embebedava em vez de afogar, esmagar, semear o prateado indesejável
E as curvas que toda a gente quer ocultar, bebe-se demasiado mas nunca se bebe
Quanto a sede merece, tantas lágrimas engolidas no durar em que o viver se torna,
Entre goles com vontade e aqueles que têm que se engolir, entre uma gota de mel
E mais uma descarga biliar, o verde amargo da esperança que corrói os intestinos da alma,
Ao ponto de não se poder absorver mais os dias de Sol, com os mesmo braços abertos
De antes, o sorriso é um reflexo para responder socialmente ao que se espera,
Lê-se tanto, porque se tem tanto para dizer, mas o medo de se acertar na cadência do coração
Impede a língua o que os dedos consentem na solidão, entre a primeira e a última cerveja,
Gostava de conseguir espremer o limão, fazer sumo, simplesmente, e refrescar a alma,
Mas sempre que me dão limões, faço gasolina com eles e incendeio as páginas em branco,
Engulo o ácido destilado à sombra da solidão e da noite e vomito tudo em forma de salvação,
Uma mapa da perdição onde me encontro, onde por vezes me parece que também tu estás,
Poeta, não o meu espelho grotesco à moda do retrato de Dorian Gray, mas tu, simples e
Inocente, até mesmo no amor ébrio dos sofás da madrugada, purificado, água de um glaciar
Que agoniza com graça, ensina-me a ser menos poluído, a engolir o tempo com calma,
A beber menos o que me encurta o tédio e me alonga os versos, tu sabes, a ser menos eu,
Mas é esta distância que nos aproxima, porque também o espaço é relativo, e muitas vezes
Vamos contra as suas leis, já que estamos tantas vezes no mesmo ponto sem a confirmação do olhar,
Ou do estilo, ambos no mesmo ritmo que nos leva e lava, bebemos como vivemos.

06-10-2013

Coimbra


João Bosco da Silva