Desconselho
Aguenta-te,
acende mais um pouco de incenso, pode ser que o cheiro da sua pele
Se apague no
fumo do tempo, esquece tudo, mais vale a pena tu cheio de nada,
Tanto peso
às costas para no fim se deixar tudo onde o nada nos engolir,
Aguenta-te,
os teus dramas actuais irão tornar-se pálidos à sombra dos monstros
Que se
alimentam de anos, procuras a inocência na decadência porque sabes
Que uma está
perdida e a única forma de a reencontrares é perdendo-te na outra,
Aguenta-te,
agarra bem as cordas do baloiço, tudo não passa de apanhar balanço
Para um
salto eterno, és tão real, tão vivo como o esperma que limpaste,
Engoliste,
como se fosse um pecado excitante, apenas os teus filhos quânticos,
Mas neste
universo calhou a pele não ser fertilizável, só o sadismo de uns lábios
A deixar
réplicas de saliva que brilham no luar nas nádegas onde alguém passa o dia
Sentado e às
tantas se esforça para não rasgar o recto abusado pelos desejos
Inocentes de
como quem mata passarinhos à fisgada, escorre-lhes dentro,
Escorre-lhes
de dentro, mas maior conquista será se escorreres salgado, dos olhos,
Turva-lhes
as certezas, mostra-lhes assim a verdade, sacode-te de ti mesmo
Como se te
quisesses ver livre da alma, deixa cair todas as palavras que te atrasam,
Aguenta-te,
põe a música mais alta até só se ouvir a contagem decrescente do teu coração.
05.06.2012
Turku
João Bosco
da Silva