quinta-feira, 11 de novembro de 2021

 

Louça Suja

 

A escultura grotesca que é a louça suja amontoada

Lembra-me a vida, que me custa enfrentar ao acordar,

Adia-se a obrigação, cancela-se mais um encontro,

Menos um copo sujo, há vida naquele monte,

Uma construção que a ordem e o detergente farão desaparecer,

Contudo olhar para aquilo pesa nos olhos,

Pesa na consciência quando lhe viro as costas

E me debruço no acto inútil de escrever um poema

Sobre louça suja e vida, há sempre a possibilidade

De um copo cair ao chão, um prato se partir,

É o risco que se corre quando se acrescenta

Mais um verso, respira-se melhor na aridez metálica

De um lava-louça deserto, por isso terei que terminar

Este fazer para dentro, pegar no esfregão e viver.

 

Turku

 

11.11.2021

 

João Bosco da Silva