Borralho II
Bastava um canto vazio num bairro plantado num luar de Agosto,
A ideia do amadurecer das romãs antes do Inverno, o meu esperma
Que te humedecia as cuecas numa tarde ainda quente de chuva,
Abrigados do desencanto que o futuro sempre reserva,
O amor era pouco mais que a eternidade, um infinito em forma
de açúcar
Derramado numa mesa de café da província, esquecer tudo
Por uma vontade maior que qualquer fome, bastava um corpo
No outro, mas o inverno consegue ser tão longo e frio,
E os anos oxidam até o brilho das estrelas, a verdade,
quando o caudal
Do rio agoniza na canícula, mostra-se como os sacos com
ossinhos
Dos cães e gatos que foram lançados da ponte romana,
Então basta uma palavra para a bílis se derramar na remela
fresca,
Fode-se numa pressa de carne que descongela no saco da
mercearia,
Só porque em casa não há um canto que não tresande ao que
trazia
O luar às noites de geada e sabor ao vinho já vinagre,
Quantas vezes se repete a mesma história antes do cansaço
Nos impor uma responsabilidade do tamanho da morte.
Turku
08.10.2022
João Bosco da Silva