Poeta Inútil
Se quiseres ser poeta, não sejas útil
Ou tomarão a tua poesia como um capricho,
Intrusa, algo secundário à tua habilidade
De carpinteiro, assumirão que o teu trabalho
É a tua vocação e o resto, os versos,
Um cartão de biblioteca a que toda a gente
Tem acesso, mas só realmente alguns merecem
Para dar ares da sua divina utilidade,
Se quiseres ser poeta, não mostres
Que não dependes da poesia para pagar
As conta da água, da luz ou do ego,
Mesmo que a uses com a mesma naturalidade
Com que usas o
papel-higiénico,[JBdS1]
Se tiveres um trabalho a sério, nunca
Te levarão a sério como poeta, queixa-te ao menos,
Falta tempo, falta dinheiro, não há paciência,
Chora como os poetas verdadeiros
Que não sabem fazer uma porta
Ou trazer moribundos de volta.
04.04.2023
Turku
João Bosco da Silva