quinta-feira, 30 de novembro de 2023


Regresso ao Parque Ueno

 

Regressa-se sempre pela primeira vez,

O lugar que trouxeste dentro, todos aqueles anos,

Era somente teu, quase tanto quanto um sonho,

Mais ou menos uma ideia, a posição do pinheiro

Contorcionista, mas os detalhes, tão distintos,

Que terá acontecido à ilusão da memória,

O corpo que traz o lugar também outro,

Folhas caídas que há muito pó,

Amores que definitivamente morreram,

Agora, também na memória, um passeio solitário

No mesmo parque, alguém que tudo era

E que nunca foi, as recordações fragmentadas

Preenchidas com o que os sentidos vão agarrando

São as ruínas que nos são, se a estação fosse diferente,

Mas a luz do dia a mesma, os olhos, onde este Outono

Se despede, esses é que se calhar são outros.

 

Tóquio

 

20/11/2023

 

João Bosco da Silva