quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

 

Lama e Esperma na Primavera

 

para Hanna,

 

Esperar numa manhã fria que abrisse a estação de serviço,

A promessa de um café quente e a tua chegada, o lago ondulante,

Com ar recriminador, nunca fui de acordar cedo, para o que fosse,

Estacionas o carro emprestado pelo teu homem,

Sais com a naturalidade desenvolta de sempre e vens ter comigo,

Na cafetaria da estação uma empregada que conheces,

Traz-nos café, não sei que mentira lhe atiras com os dentes malandros,

Eu a cozer por dentro uma úlcera ou qualquer outro aperto,

Não fosse a vontade dos tomates maior, ou a vontade de cuspir

No amor alheio, não sei, mais tarde no carro como se me desses

Uma boleia inócua, entras por um caminho de terra,

A manta nos bancos de trás, eu tinha ficado de trazer os preservativos,

Mas nem isso e a manhã não estava para piqueniques,

Páras o carro ao lado de um aeródromo abandonado,

Saímos e entramos nos lugares de trás, beijas-me como quem começa

Uma coreografia ensaiada, o carro cheira a homem, óleo, pó, botas de trabalho,

Mas logo desaparece, quando mergulho a cara nas tuas mamas brancas,

O gosto a carne leitosa domina o ar, tento descer e provar-te a cona,

Mas procuras-me a gaita, sem oral, dizes, vamos foder apenas,

Quase como uma regra moral qualquer, enfias-me a tripa de latex

No caralho e montas-me, fodes-me com um desespero estranho,

Gemes com uma doçura que nunca teria imaginado em ti,

Enterras-me a cara no teu pescoço de leite e rebuçado,

Começas a vir-te quase num choro alegre, aproveito e deixo-me verter,

Aliviado, dentro do saco, não aguentava mais aquele trote,

Arranca-mo, limpa-me a gaita com um lenço de papel, embrulha-o

No lenço e atira-o pela janela, para a manhã fria, veste-se

E entra para o lugar do condutor, esperando por mim,

Eu ainda lutando com a melancolia pós-coito, de calças no fundo dos joelhos,

Ridículo, o cheiro a casaco velho de flanela regressa,

Vamos, diz-me ela da frente, acabamos atolados na lama do caminho,

Durante quase uma meia hora tentamos tudo, acabamos por nos resignar,

Liga a uma colega nossa, o marido virá de tractor, eu salto para a floresta,

E ando à deriva naquele solo pantanoso de primavera nórdica o que

Pareceu uma eternidade, a manhã tornou-se quente, finalmente transpiro,

Atravesso a pista de aterragem conquistada por ervas daninhas,

Outra eternidade e o Sol começa a apertar, atravesso um campo

E chego finalmente a uma estrada, ela liga-me e calças de equitação vêm ter comigo,

Parámos numa clareira, estende a manta, trazia uns pães e cervejas,

Comemos e bebemos ao Sol, como se tivéssemos acabado uma lavoura,

Passados uns dias o homem regressou, passadas umas semanas,

Soube que estava grávida, nunca mais voltamos àquele aeródromo,

Nunca mais fodemos, serei ainda uma memória lamacenta, a foda kármica mais rápida.

 

23.12.2020

 

Turku

 

João Bosco da Silva