domingo, 13 de setembro de 2020


Perfume

Este cheiro a bílis, manchas de cerveja, meias molhadas e mijo de gato
Em calças com manchas secas de solidão, é o cheiro da humanidade,
Não há animal mais repugnante do que este que vive abismos à superfície,
Incapaz de aceitar aquilo que realmente é, uma doença bípede,
Num planeta cansado, mortal como tudo, esculpindo eternidades
Com a sua ignorância, a erosão de uma rocha ao sol nunca apestará
Como o hálito de todas as mentiras, toda a vida tem potencial de peste,
O amor transforma-se em ódio, a beleza em saudades tristes,
Os sonhos num acordar cinzento para mais um dia vazio,
Este cheiro repugnante do centro do universo onde não nascem estrelas bailarinas.

13.09.2020

Turku

João Bosco da Silva