Não Esperes Que O Filtro Te Chupe
A cadência dos versos como os passos incertos na rua que
baixa até ao buraco onde todas
As cidades nascem, a Igreja, onde se fundam almas para
sujar, as estrelas com todas as
Certezas que se consomem, ao contrário do que se espera, na
aurora, no cheiro a pão fresco
E do primeiro café tirado às insónias e da secura de sonhos
nos autómatos que são espelhos
Em que não queremos acreditar, que alienados vão todos fora
de nós, não sabem nada da
Vida, que é nossa, minha, nunca estiveram em lado nenhum e
perdem-se na ausência de
Segundos entre as horas que se ganham para se gastarem na
pobreza nutritiva dos programas
De televisão, oferecidos aos porcos, cevados para inchar,
tornados lentos e pesados
Para o matadouro lento da engrenagem social, a liberdade é
uma palavra como absolvição
Dos pecados, pelas indulgências dos números, no mundo não
interessa o que és, mas quanto és,
Tudo o que tens além de ti, faz de ti melhor, maior,
aproxima-te de deus tudo o que se cola
A ti, apêndices brilhantes, escada em direcção ao que foi
inventado na profundidade das
Circunvoluções, nada se move no fim de mais um verso, alguém
sente porventura o que não
Lhe toca os sentidos mais superficiais, a calçada não chega
a ser tão suja como os pés seguros
Da grandeza da sua ignorância, olhando em frente com uma
miopia de alma, que dá dores
A dentes intolerantes à sinceridade das mensagens
subliminares, deitam-se à sombra das
Raízes secas, nem dão pela terra que lhes cobre os olhos,
chamam luz à sorte dos favores,
Esqueceram-se dos deveres e dos direitos e cantam à luz das
velas, ajoelhados numa hipocrisia
Tão casta, que até às paredes vazias de um claustro tentam
vender, como devoção e honra,
Apague-se o cigarro e aceite-se a dádiva fechada numa casa
de banho quente de vontade onírica.
Coimbra
17.07.2013
João Bosco da Silva