Feliz Natal
E Um Moleskine Perdido
Perdi um
moleskine e com ele vários poemas, os melhores poemas, tudo sempre o
Melhor
quando perdido, é mais fácil sentir o tamanho do vazio do que daquilo que o criou
Quando se
perdeu, aplica-se a tudo, menos à vida, sinto que foram os poemas que mais me
Aliviaram,
agora que estão perdidos, sinto um alívio como naquela manhã de Natal,
Depois de
ter ejaculado nas tetas daquela loira falsa, com a porta entreaberta,
O alívio da
toalha azul, que tinha dormido connosco, com o meu futuro já seco e perdido
Da última
foda, a limpar-me da sua pele e mais uma vez perdido, promessas perdidas,
O salvador
do mundo irremediavelmente perdido, o anticristo que já demora em vir,
Tudo perdido
e o alívio de perder algo que nos era, que nos possuía, que era nós,
Perder um
pouco do lixo que se acumula com o passar dos segundos, pelos sentidos,
Pela
fermentação do que ficou dos sentidos e já não é nada a não ser um passo na
areia,
Que insiste
em secar ao Sol, enquanto não vier o azul e levar tudo, perder tudo,
O amanhecer
azul e ela geme-me, que queres que te faça, numa língua irmã cortada,
Continua,
estou a saborear o teu interior, não pares, isso, e ela preocupada que eu
desiludido,
Por só a
estar a foder, deixa estar, eu já trato de ti, presente de Natal sem futuro, um
orgasmo,
Lençóis
esmagados entre unhas pintadas de vermelho, corre-te, e eu venho-me também,
A porta
entreaberta, na cozinha o barulho da noite anterior já apagado, dentro de nós,
uma
Ressaca
dupla, da bebedeira e das fodas, o moleskine perdido, o esperma levado pela
toalha
Azul antes
de poder arrefecer, os poemas levados antes da tinta secar e só o alívio,
Uma quase
satisfação por ser Natal e estar perdido, mesmo encontrando-me dentro de um
nome
Que hoje,
loira falsa, do sul, que queres que te faça, faço-te tudo e no fim levo apenas
o vazio
Que fica
depois do Sol nascer, um moleskine cheio de poemas que não serviram para mais
nada
A não ser
encontrar-me fora de mim, como quem se encontra dentro de alguém e escrever,
Como foder,
é a minha forma de não estar só, mesmo estando, um com, outro sem companhia.
08.10.2012
Turku
João Bosco
da Silva